sexta-feira, outubro 30

sabores

Gostosa canela:
casca seca
de uma árvore bela



Gostoso quadril:
carne úmida
de uma paixão febril.




[Escrevi em Cruzília-MG # 2000]

sábado, outubro 24

autonota de falecimento



Morro enfim,
Alegre perante um copo
Morro cedinho
Com a cidade nascendo
Morro sutilmente
Leve e cintilante
Olhando para o espelho
E com a alma sorrindo
Morro barbudo despenteado
De anel e pulseira
Morro cantando
Morro esperando

Nem lembro o que deixo
Nem sei o que foi
Perdi a conta
Mas morro sabendo
O tudo do nada
Morro assim,
Talvez querendo
Morro de vez
Besta de tesão
Morro acordando
Nesse mesmo velho balcão.



[Escrevi em Lorena-SP # 1979)

sexta-feira, outubro 16

águas



Em outubro de 1982 - quando os Saltos de Sete Quedas, no Rio Paraná, desapareceram sob as águas do lago artificial criado para a implantação da hidrelétrica de Itaipu - uma exaustiva polêmica tomou posse do Brasil, proporcionando diversas manifestações populares. Entre elas...




Cadeias
Homônimas
Moléculas
Atômicas
Cabeças
Atônitas

Sete corpos
Sete nuvens
Sete pragas
Sete ilhas
Atômicas

Sete chaves
Sete deuses
Sete chuvas
Sete tombos
Atômicos

Sete saltos
Sete dias
Sete medos
Sete mortos
Atônitos.




[Escrevi em São Paulo-SP # 1982]


segunda-feira, outubro 12

ruminâncias


Dentro do útero eu já mascava.
É, triturava as angústias de minha mãe.
Em seguida, masquei seu próprio seio nem dente tendo para o recreio.
Logo comecei a mascar banana, batata e outros chicletes naturais.
Então foi que veio a maldita carne: mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava e da garganta não passava (não suportava a idéia de engolir cadáveres).
Depois, além de mascar, descobri que poderia numa só tacada grudar a boca e o nariz. Comecei a fazer bolas e mais bolas, mascando é claro.
Pintaram umas mascagens esotéricas também: hóstias, cibalenas, pontas de cigarro, baganas, beiço enraivecido, aulas de matemática, horas pra chegar etc. Masquei minha adolescência direitinho.
Certa tarde masquei o dedo do dentista.
Segui mascando - haja maxilar!
Masquei obrigado; não muito engraçado.
Vi bichos que não paravam de mascar. Dia e noite, era só mascando.
Masquei de pé, deitado, sentado, dormindo e acordado.
Masquei palitos, línguas e folhas.
Hoje masco minhas rugas e gengivas.
Acho que mascarei formigas para tirar o gosto do suco gástrico apodrecido em meu estômago falecido.
Quanto a vocês, continuem mascando a democr...
Digo, a hipocrisia.




[Escrevi em São Paulo-SP # 1984]

quarta-feira, outubro 7

poetas...

Ainda sobrevivem aos nãos
Ainda escrevem com os pés
Ainda correm com as mãos.




[Escrevi em Canoa Quebrada-CE # 1981]

sexta-feira, outubro 2

futuro



"Se contemplarmos a humanidade como um todo, veremos que somos animais sociais. Além disso, as modernas estruturas da economia, da educação e de outras atividades demonstram que o mundo se tornou um lugar menor e que nós dependemos muitos uns dos outros. Nessas circunstâncias, creio que a única opção é viver e trabalhar juntos em harmonia, tendo em mente o interesse da humanidade como um todo. Essa é a única perspectiva e o único método que devemos adotar para nossa sobrevivência."







[Sua Santidade, O Dalai Lama; in O Livro da Sabedoria, pág.100]