Dentro do útero eu já mascava.
É, triturava as angústias de minha mãe.
Em seguida, masquei seu próprio seio nem dente tendo para o recreio.
Logo comecei a mascar banana, batata e outros chicletes naturais.
Então foi que veio a maldita carne: mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava e da garganta não passava (não suportava a idéia de engolir cadáveres).
Depois, além de mascar, descobri que poderia numa só tacada grudar a boca e o nariz. Comecei a fazer bolas e mais bolas, mascando é claro.
Pintaram umas mascagens esotéricas também: hóstias, cibalenas, pontas de cigarro, baganas, beiço enraivecido, aulas de matemática, horas pra chegar etc. Masquei minha adolescência direitinho.
Certa tarde masquei o dedo do dentista.
Segui mascando - haja maxilar!
Masquei obrigado; não muito engraçado.
Vi bichos que não paravam de mascar. Dia e noite, era só mascando.
Masquei de pé, deitado, sentado, dormindo e acordado.
Masquei palitos, línguas e folhas.
Hoje masco minhas rugas e gengivas.
Acho que mascarei formigas para tirar o gosto do suco gástrico apodrecido em meu estômago falecido.
Quanto a vocês, continuem mascando a democr...
Digo, a hipocrisia.
[Escrevi em São Paulo-SP # 1984]