segunda-feira, outubro 12

ruminâncias


Dentro do útero eu já mascava.
É, triturava as angústias de minha mãe.
Em seguida, masquei seu próprio seio nem dente tendo para o recreio.
Logo comecei a mascar banana, batata e outros chicletes naturais.
Então foi que veio a maldita carne: mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava, mascava e da garganta não passava (não suportava a idéia de engolir cadáveres).
Depois, além de mascar, descobri que poderia numa só tacada grudar a boca e o nariz. Comecei a fazer bolas e mais bolas, mascando é claro.
Pintaram umas mascagens esotéricas também: hóstias, cibalenas, pontas de cigarro, baganas, beiço enraivecido, aulas de matemática, horas pra chegar etc. Masquei minha adolescência direitinho.
Certa tarde masquei o dedo do dentista.
Segui mascando - haja maxilar!
Masquei obrigado; não muito engraçado.
Vi bichos que não paravam de mascar. Dia e noite, era só mascando.
Masquei de pé, deitado, sentado, dormindo e acordado.
Masquei palitos, línguas e folhas.
Hoje masco minhas rugas e gengivas.
Acho que mascarei formigas para tirar o gosto do suco gástrico apodrecido em meu estômago falecido.
Quanto a vocês, continuem mascando a democr...
Digo, a hipocrisia.




[Escrevi em São Paulo-SP # 1984]

20 comentários:

  1. Está o máximo, do máximo
    Este mascava, mascava,
    Começou tão cedo mascando
    E acabou...mascando nada

    Fartei-me de rir ao ler
    E até mesmo a imagem
    Isto de democracia
    Só lá vai!... com uma viragem

    Hipocrisia o que há mais
    E temos de "engolir"
    Não é como essa carne
    Que não conseguia "deglutir"


    Mascou dedo do dentista?
    Isso foi um pouco chato!..
    E se teve de pagar
    Não saíu nada barato!...
    Um grande abraço.
    Áurea

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  2. Oi, Amigo Dalton França
    Continuamos a ruminar aquelas "coisas" que não descem pelas nossas gargantas!
    Muito bom!
    Hoje lembramos de vc quando fomos à praia do Forte e vimos vários carros de Minas. A cidade de maior número de carros era Juiz de Fora.
    Um abraço e tudo de bom!

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  3. Ruminar é preciso. Mas, até quando?!
    Bom texto para reflexão.
    Luiz Ramos

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  4. Alô minha amiga Áurea!
    Dentistas provocam... [rsrs]
    E vamos mascando! Grato pela visita e pelo bem-humorado poema/comentário.
    Um grande beijo brasileiro!

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  5. Querida Zilda, o povo de Juiz de Fora adora Cabo Frio e tooooodo o litoral capixaba também! Grato pela lembrança e pela visita.
    O que me conforta é que entre uma ruminância e outra, temos oportunidades de 'crescer' um pouquinho mais. Basta saber aproveitá-las.
    Um beijão!

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  6. Prezado Ramos, sua visita alegra muito ocantinhodacurva.
    Você tem toda a razão, meu amigo. O texto propõe diversas reflexões sobre os sapos que temos engolido ao longo de nossa trajetória. A grande questão é "como não ruminá-los mais?"
    Valeu! Um grande abraço!

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  7. Felizes são aqueles que ruminam, ruminam...mas não "absorvem" e não "engolem" essa hipocrisia a que você se refere. Sei que são poucos. Muitas vezes, os "objetos" dessas "ruminâncias" nos levam também a "regurgitar".[rs]

    Um post de mestre...Dalton. Parabéns!!!

    Beijos

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  8. Parabéns Dalton ... é "phoda" mesmo esta nossa vida de ruminantes ... tudo se rumina ... e este bolo q nos enjoa não desce ... até qdo? qdo aprenderemos a mastigar e triturar estes desatinos? vai saber neh?

    bjux

    ;-)

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  9. Oi querida amiga Lau! Como sempre seu comentário chega de forma inteligente e precisa.
    Ruminando, ruminando e ruminando, a gente vai levando. Seja qual for o cardápio. O que precisamos - como você salientou muito bem - é aprender a regurgitar.
    Grato pelo elogio. Um beijo!

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  10. Valeram, Paulo! A presença e a observação que vem complementar muito bem a ideia do texto.
    Este 'até quando' que é o foda...
    Forte abraço!

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  11. Oi "Mestre Dalton" ! Passei por aqui para deixar um abraço em homenagem ao "Dia do Mestre".
    Que NÃO continuemos "ruminando" os baixos investimentos na educação, os "ridículos" salários do professores,a falta de apoio de "alguns" pais à luta dos mestres em sala de aula...Enfim, o não "devido" reconhecimento à classe.
    REGUR... GRITAR é a palavra de Ordem.

    Um beijo

    E.T. Desculpe , apaguei o comentário anterior porque "comi" uma palavra.

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  12. Em primeiro lugar,tudo de bom para o mestre Dalton,que tenhamos melhores tempos(e teremos),onde se valorize o que de fato tem valor.Adorei o comentário da Lau para seu texto de excelência.Bjs.

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  13. Podemos mascar toda a vida...mas só mascar! O perigo está em engolir...é indigesto e faz mal ao estômago. Qual o remédio?? Deitar fora, antes que azede cá dentro.
    Beijão.
    Graça

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  14. Obrigado pela lembrança e pela solidariedade, querida Lau. Você que já exerceu o magistério no serviço público conhece perfeitamente essa triste história que se arrasta há séculos...
    Valeu. Um beijão!

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  15. Valeu a força Zilda. Realmente, essa é uma problemática longe de ser equacionada.
    Grato pelo elogio. Um beijo!

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  16. Com certeza, querida Graça!
    Deitemos os inconvenientes fora, então, antes que eles embolem o nosso bem-viver.
    Belo comentário. Um grande beijo brasileiro!

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  17. Meu amigo, desculpe-me pelo atraso da visita, estava viajando e na roça não tem internet. Um texto forte, verdadeiro bonito. Até quando teremos que marcar esses políticos brasileiros?
    Abração

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  18. Dessa vez, Wanderley, você tá perdoado... (rsrs) O que te salvou foi a estadia na roça... "É bão dimaisi, num é?"
    Quanto aos políticos, soda cáustica neles! (rsrs)
    Grato pelos elogios. Um grande abraço!

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