Ontem foram especialmente lembrados os vinte anos sem a presença física de Raul Seixas entre nós. Há trinta e três outonos tive a oportunidade de - ao vivo - ver, ouvir e pirar com suas performances pela primeira, única e última vez. Foi no Sol, Som e Surf, um festival realizado em 1976 num estádio de futebol de Saquarema, no estado do Rio de Janeiro.
Eu e os meus amigos Cambuca, Vicente, Ricardo, Ivo e João Carlos embarcamos no "Trem de Aço" em Lorena [cidade do vale do paraíba paulista onde nasci e vivi meus primeiros dezoito anos de vida] rumo ao Rio de Janeiro. Dormimos na casa do pai do Vicente em São Cristóvão. No dia seguinte atravessamos a baía da Guanabara a bordo da barca. A partir de Niterói, pegando algumas caronas, finalmente chegamos à já efervescente cidadezinha fluminense, engordando ainda mais a eclética platéia do evento.
Para a hospedagem levamos um pára-quedas usado. Ao ser armado e esticado transformou-se num tipo de tenda circense que se destacou marcantemente em meio ao turbilhão de barracas multicoloridas compactadas nas areias da principal praia do lugar, como uma miniatura dos pastos de Woodstock.
Durante dois dias ficamos deslumbrados com as manobras radicais executadas pelas feras do surf que disputavam uma etapa de algo assim como um circuito nacional da modalidade.
Durante duas noites revivemos o astral do Festival de Águas Claras, acontecido no ano anterior em uma fazenda do município paulista de Iacanga, e curtimos o melhor de então do autêntico e pulsante rock and roll tupiniquim.
No sábado subiram ao palco os grupos Made in Brazil e Bixo da Seda. Fechando, vieram Rita Lee & Tutti Frutti. Arrebentaram.
@ coleção Dalton França @
No domingo foi a vez do grupo Flamboyant, Angela Ro-Rô, Ronaldo Resedá e, finalizando espetacularmente, Raulzito.
Magérrimo, escondido sob uma cabeleira 'black-power' e atrás de lentes escuras, entrou em cena, caminhou até o pedestal do microfone, congelou-se, pensou um pouquinho, coçou a cabeça como um enorme gorila e esbravejou na lata: O que é que eu vou fazer com a cabeça de vocês?
Em seguida ouvimos um estrondo. Foi a porrada que ele deu nas cordas da guitarra para puxar "Gita". Daí em diante, Deus tomou conta de nós...
Saudações terráqueas, Raul Seixas!
Durante a vida inteira o indivíduo em questão, além de musicar, instigou...