segunda-feira, agosto 31

tempo firme


Entretanto, o vento movia
As retinas da esquecida tarde
Esqueci até seu sobrenome
Talvez por impaciência;
Passavam trens
Cantavam pássaros
O minuto não era um minuto

Por mais que se olhe
O azul do fim do mundo
O final da noite
Será apenas mudo;
Despencavam folhas
Ciscavam galinhas
O minuto era o minuto

Engraçado, quase não rima
Esta vontade de voar
O liquidificador liquida
A tortura da espera;
Dormiam cães
Tocavam músicos
Um minuto não era o minuto.




[Escrevi em São Paulo-SP # 1986]

terça-feira, agosto 25

cronologia


"A idade de uma pessoa

é a idade do seu último sonho".




(RUBEM ALVES)

sexta-feira, agosto 21

raul

Ontem foram especialmente lembrados os vinte anos sem a presença física de Raul Seixas entre nós. Há trinta e três outonos tive a oportunidade de - ao vivo - ver, ouvir e pirar com suas performances pela primeira, única e última vez. Foi no Sol, Som e Surf, um festival realizado em 1976 num estádio de futebol de Saquarema, no estado do Rio de Janeiro.



Eu e os meus amigos Cambuca, Vicente, Ricardo, Ivo e João Carlos embarcamos no "Trem de Aço" em Lorena [cidade do vale do paraíba paulista onde nasci e vivi meus primeiros dezoito anos de vida] rumo ao Rio de Janeiro. Dormimos na casa do pai do Vicente em São Cristóvão. No dia seguinte atravessamos a baía da Guanabara a bordo da barca. A partir de Niterói, pegando algumas caronas, finalmente chegamos à já efervescente cidadezinha fluminense, engordando ainda mais a eclética platéia do evento.

Para a hospedagem levamos um pára-quedas usado. Ao ser armado e esticado transformou-se num tipo de tenda circense que se destacou marcantemente em meio ao turbilhão de barracas multicoloridas compactadas nas areias da principal praia do lugar, como uma miniatura dos pastos de Woodstock.

Durante dois dias ficamos deslumbrados com as manobras radicais executadas pelas feras do surf que disputavam uma etapa de algo assim como um circuito nacional da modalidade.

Durante duas noites revivemos o astral do Festival de Águas Claras, acontecido no ano anterior em uma fazenda do município paulista de Iacanga, e curtimos o melhor de então do autêntico e pulsante rock and roll tupiniquim.

No sábado subiram ao palco os grupos Made in Brazil e Bixo da Seda. Fechando, vieram Rita Lee & Tutti Frutti. Arrebentaram.


@ coleção Dalton França @


No domingo foi a vez do grupo Flamboyant, Angela Ro-Rô, Ronaldo Resedá e, finalizando espetacularmente, Raulzito.

Magérrimo, escondido sob uma cabeleira 'black-power' e atrás de lentes escuras, entrou em cena, caminhou até o pedestal do microfone, congelou-se, pensou um pouquinho, coçou a cabeça como um enorme gorila e esbravejou na lata: O que é que eu vou fazer com a cabeça de vocês?

Em seguida ouvimos um estrondo. Foi a porrada que ele deu nas cordas da guitarra para puxar "Gita". Daí em diante, Deus tomou conta de nós...

Saudações terráqueas, Raul Seixas!


Durante a vida inteira o indivíduo em questão, além de musicar, instigou...



terça-feira, agosto 18

piscar


Meus olhos se esforçam

Por um milímetro a menos

No esforço compreendido entre a Razão


E a razão para não possuí-la...



[Escrevi no Rio de Janeiro-RJ # 1979]

sábado, agosto 15

woodstock

Trilha sonora da minha efervescência hormonal adolescente...
Trilha sonora da fundamentação do meu pensamento sociopolítico...
Trilha sonora do meu inevitável enveredamento pela arte...
Trilha sonora dos meus intermináveis days of peace and love...

OUÇA ESPECIALMENTE
Canned Heat, Carlos Santana, Country Joe McDonald,
Jefferson Airplane, Jimi Hendrix, Joe Cocker,
John Sebastian, Ravi Shankar, Ten Years After
e

o magistral Richie Havens.



sexta-feira, agosto 14

assim seja


Cada ser é ímpar, original, sem igual.

Conhecer-se completamente
é obter um conhecimento que mestre algum,
em parte alguma,
e em época alguma
pode dar a alguém.

A experiência da própria vida
é absolutamente intransferível.



I Ching
[ORÁCULO CHINÊS QUE TEM O ESTUDO DA “MUTAÇÃO” - E SUAS DIVERSAS POSSIBILIDADES DE INTERPRETAÇÃO - COMO PRINCIPAIL EIXO]


domingo, agosto 9

simples





"Não pretendo deixar meu nome gravado na história do mundo;


agrada-me apenas rabiscá-lo na areia de uma praia qualquer."






[Escrevi em Canoa Quebrada-CE # 1982]

sábado, agosto 8

energia


Toque a pilha
Troque a vida
Toque a troca
Troque a fita
Pilhe a fita
Que toca a vida
Fite a pilha
Que vive na toca
Toque a fita
Role até o fim
Troque a pilha
Ligue-se em mim.



[Escrevi em Lorena-SP # 1989]




quinta-feira, agosto 6

seis por meia dúzia



“Os políticos e as fraldas


devem ser mudados frequentemente


e pelo mesmo motivo.”





[Eça de Queiroz]








desembarcando


Devido à gripe que, no presente momento, domina a mídia, os leitos de emergência e o subconsciente de incontáveis brasileiros, meu descanso julino estendeu-se por mais sete dias agosto adentro.
Porém, como tudo o que é bom acaba logo, já estou devidamente acomodado em minha mesa abarrotada de papéis e diante da tela recheada de e-mails e blogs, antecipando a pré-organização de reinício do semestre letivo.
Nesse (ainda resistente) retorno ao mundo urbano, não posso deixar de reconhecer, admirar e agradecer imensamente as carinhosas mensagens de solidariedade e incentivo recebidas em meu post "férias".
Com toda certeza, minha participação nesse universo virtual só se justifica e só me vale em função da presença de vocês meus amigos muito especiais Antonio Campos, Cristina Siqueira, Dade Amorim, Frufrupina, Gisela Rosa, Laís Castro, Lau Milesi, Luísa N., Magnólia-menina, Mariano Sousa, Ramosforest, Salete Cochinsky, Sueli Schiavelli, Wanderley Elian e ZildaeAntonio.
Um grande beijo no coração de todos!