quinta-feira, abril 30

à sua calcinha


O pedacinho da sua calcinha
Que se ofereceu aos meus olhos
Condenou-me a eterno prisioneiro
Do seu insinuante corpo inteiro

As florzinhas da sua calcinha
Que germinaram em meus olhos
Adubaram meus férteis jardins
Do desejo, da paixão e dos afins



A rendinha da sua calcinha
Que extasiou os meus olhos
Encortinou a grande tela
Preenchida com a musa mais bela

O subsolo da sua calcinha
Que se escondeu dos meus olhos
Encadeou o ardor que incendiou
O torpor que dos poros emanou.



[Escrevi em Cruzília-MG # 2000]

não leia


Não se consegue mais sentir o cheiro da terra.

Não se percebe mais o sol nascer.
Não se toma mais banho de mar.
Não se anda mais de bicicleta.
Não, não e não.
Minha vida está repleta de nãos.
A sua não?
Ah, então nossas vidas estão cheias de nãos, não é?
Não pra isso, não para aquilo.
Não pro sim, não pro não.
Não pra tudo, não de tudo.
Não obrigado, não há de quê.
Não vou, não fui, não sou,
Não era, não vai, não é,
Não é não ou não é não?
Não sei não!
Não é não em qualquer ocasião.
Ene-a-ó-til é a sua fórmula repressora.
Não faça!
Dizia o pai e não dizia a mãe.
Não pode!
Dizia o padre e não dizia a madre.
Não é assim!
Diziam os professores.
A vida ainda vive com os nãos nas costas.
Possíveis e impossíveis.
Impossível!
Isto também significa não.
Também não.
Nem.
Agora não.
Depois não.
Sempre não.
Cuidado... Não!
Não compreendo.
Não há vaga.
Não dá mais tempo.
Não insista!
Dizem não, ouço não.

Vivo não.
Não viva não.
Morra!
Sim...



[Escrevi em São Thomé das Letras-MG # 1992]

citando...


"Cada pessoa pensa como pode..."
[Mario Quintana]

pouco

Bastaria um rio alucinado
Tropeçando pelas pedras
Ou um raio metadourado
Trincando veias nas serras

Bastaria um olho aberto
Mirando longe a distância
Ou um dia quase incerto
Fervendo feito infância

Bastaria uma chuva do céu
Lambendo a terra com fome
Ou um pedaço de papel
Guardando o seu nome

Bastaria uma vontade louca
Umidecendo nosso leito
Ou uma palavra rouca
Nascendo dentro do peito.



[Escrevi em Lorena-SP # 1985]

quarta-feira, abril 29

escrevendo...


“Escrever é um ato de liberdade.” (Martin Amis)

“Escrever é mandar recado. Ler, entender o recado.” (Dady Marlene)

“Escrevo para que meus amigos me amem ainda mais.” (Gabriel García Márquez)

“Escrever é uma forma de a voz sobreviver à pessoa.” (Margaret Atwood)

“Cada um escreve do jeito que respira. Cada um tem seu estilo. Devo minha literatura à asma.” (Fabrício Carpinejar)

“O ato de escrever é a arte de sentar-se numa cadeira.” (Sinclair Lewis)

“Para escrever bem é preciso uma facilidade natural e uma dificuldade adquirida.” (Joubert)

“Escrever é ter coisas para dizer.” (Darcy Ribeiro)

“Reescrevi trinta vezes o último parágrafo de Adeus às armas antes de me sentir satisfeito.” (Ernest Hemingway)

“Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente, a minha própria vida.” (Clarice Lispector)

“Escrever é desvendar o mundo.” (Simone de Beauvoir)

“Quem não lê não escreve.” (Wander Soares)

“Não basta escrever certo. Elegância e fluência também contam.” (Josué Machado)

“Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias.” (Pablo Neruda)

“Não! Escrever não é uma arte. Escrever é fecundar pensamentos com tinta!” (Dalton França)

grande


Quando eu morrer
Não desejo uma grande festa
Quero apenas que tirem
Uma grande fotografia
De meu grande corpo nu
Sobre um grande leito
Sobriamente estendido
Como um grande bandido
Em uma grande mesa
De algum grande IML
De qualquer uma dessas
Grandes cidades grandes.


[Escrevi no Rio de Janeiro-RJ # 1979]

terça-feira, abril 21

bruta veia


Galhos secos
A noite não é
Escarpas molhadas
Senhores
Um sonho encantado
Como dizem por aí
De luz incessante
Uma criança
Perdido na selva
E sim, a meu modo
Chorando razões
De ver
Sobrevive impune
Uma puta véia
Ao gosto de sol
Daquelas bem
Que viaja de trem
Perigosas
E escapa da chuva
Que seduzem
Pela saída de emergência
Os garotinhos
Do ônibus de asas
Espantados
Azul e marrom
Com sua força
Como pedaço de bolo
Triste
Comidos no almoço
Porém, saborosa.



[Escrevi em Lorena-SP # 1980]

más companhias


Incrível
Não
Compreender
Os
Nada
Fiéis
Intelectuais
Durante
Episódio
Notoriamente
Considerado
Inteligente
Ato.

segunda-feira, abril 20

confidência



O tronco
foi pelo sistema unicamente deplorável de saúde...

Os braços
foram pela deseducação pública...

As pernas
foram pela impunidade parlamentar...

A cabeça
foi pela injusta justiça injusta.


EI JOAQUIM JOSÉ! O TREM NÃO DEU EM NADA, UAI...