quarta-feira, janeiro 28

josés

Zé Melancia
De alegria
Tombou na folia
Com a vida vazia

Zé Agrião
De coração
Carregou o irmão
Para o caminhão

Zé Berinjela
De sentinela
Avisou dona Bela
Amiga singela

Zé Hortelã
De mente sã
Invocou ao clã
Uma prece vã

Zé Uva
Escondeu-se da chuva
Sem capa e sem luva
Entrelaçado à viúva.

[Escrevi em São Thomé das Letras-MG # 1992]

embriaguez


Ao todo
Nunca fui de fumar
Nem de beber
Tampouco de amar
Muito menos de sofrer

Fui e sou
Caminhante
De meu ser quente
Estranho idôneo
Como uma serpente

Grito, corro
Lanço idéias
Desfaço-me e disfarço-me
Em trezentos
Mil
Pedaços esparsos

De tudo penso
E perco-me
Nas lamas e nas camas
Certo daquele rastro
Enfronhado, chapado
No peso de meu lastro

Ouço rouco
O santo sono selvagem,
Amargo até,
De sua barriga
E capto o saber
Dos meus sonhos
Medonhos

Canto e danço
Entre as pernas
Do espaço
Com a fita amarela
Pelado safado
Na mão
Da minha imaginação

Clamo o alarido
Longo, sofrido
Cravado e cambaleante
Soldado colorido
E só

Só sossego
Quando alguém
Felizmente enfia-me
Num chuveiro frio.


[Escrevi em Lorena-SP # 1989]